quinta-feira, 13 de março de 2008

O dilema do ser e do nome (fragmento)


São duas e dez da madrugada. A bolsa estoura. As pessoas começam a correr de um lado para outro. Não dá mais para esperar. É chegado o momento. A dor é inevitável. Depois de vários quilômetros e algumas contrações eis que chegamos ao local consagrado. A equipe de anestesistas está bêbada de champanhe. Afinal, é Natal! Nenhum médico em sã consciência marcaria uma cesárea para o Natal. Mas estamos no início da década de setenta. Época em que não existe ultrasonografia. Qualquer previsão a respeito do nascimento de um bebê nos anos setenta não passa de mera especulação. Pior que previsão meteorológica. Mas assim como acontece com o clima e com um fruto quando está maduro, é a vontade da natureza que prevalece.

Em virtude da época do ano e do acontecimento, nada mais lógico e condizente do que receber o nome de Natália. Mas....tem sempre de ter um “mas” em toda história, não é mesmo?! E nesse caso foi papai quem fez valer sua vontade ao registrar-me com o nome de Renata. O nome até que é sugestivo. Afinal, Renata significa “aquela que renasce a cada dia”. Mas isso não combinaria mais com a Páscoa do que com o Natal?


Enfim, Renata em si é um nome que não pede complemento. Pelo menos na opinião da grande maioria da população. Mas para meu pai só Renata não bastava. Renata Roberta seria a melhor opção. Na opinião dele, é claro. Combina com seu próprio nome José Roberto. E também dá continuidade à escolha do nome da minha irmã mais velha Siomara Roberta, sendo que o primeiro nome dela veio de um livro de ficção científica que ele leu. E assim vai sendo formada a dupla de “fulanas Roberta de tal”. No fundo no fundo acho que Renata foi o nome de alguma paixão platônica dele. Vai saber se não era outra personagem de ficção científica... Agora é tarde para perguntar. Papai morreu e minha mãe não sabe ou não se lembra qual a origem do nome Renata.

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