quinta-feira, 13 de março de 2008

Conta Outra (fragmento)


- Toda vez que entro em uma livraria quase enlouqueço com tanta gente falando ao mesmo tempo. São personagens correndo de um lado para outro em suas roupas pra lá de esquisitas. Parece até uma festa a fantasia. Isso sem contar os autores dessas criaturas. Os que ficam nas estantes em destaque, aquelas que ficam logo em frete à porta deitam-se sobre as capas em exposição como se estivessem tomando sol na praia. E o que é pior. Não param de tentar me convencer de que eles são a minha melhor opção. Que têm causos interessantíssimos para me contar. Que vão mudar a minha vida ao me ensinar um segredo. Teve até um que veio me dizendo que “eu poderia levá-lo para cama que ele me levaria à loucura”.



- Ah, fala sério. Depois eu é que sou louca...



- Mas esses não são os piores. Esses até falam menos que aqueles que ficam nas estantes das seções onde só a lombada com o título e o nome do autor aparece. Esses sim agem como presidiários atrás das grades gritando por liberdade. Às vezes a gritaria é tamanha que parece mais pregão da bolsa de valores. Teve uma vez que um deles quase me convenceu a libertá-lo, mas me dei conta a tempo que estava sob o efeito da Síndrome de Estocolmo. Corri e me refugiei na seção infanto-juvenil, mas quase fui atropelada por um urso polar enorme. Sem perceber acabei na seção de literatura estrangeira. Eram russos, ingleses, espanhóis, italianos, franceses e portugueses falando ao mesmo tempo. Uma verdadeira torre de babel. Mas esses nem ligaram para mim. Estavam discutindo entre eles qual representava mais para a cultura do seu país. Aproveitei que eles não me notavam e parei um pouco para descansar da balbúrdia. Foi quando aviste uma família saindo do caixa acompanhada por três volumes: o volume mais recente de Harry Potter, as Crônicas de Nárnia e A Bússola de outro. Eram corujas, ursos, leões, mágicos, rainhas, crianças, enfim, uma infinidade de personagens que fiquei imaginando como a família iria fazer para transportar tanta gente para casa.

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