sexta-feira, 11 de julho de 2008

Tatuagem



Esse texto foi redigido a partir da criação de um narrador, conforme exercício proposto pela grande Nanete nas nossas Oficinas de Inverno, que aliás estão sendo DIVINAS!

Todo dia ela fazia tudo sempre igual. O mesmo caminho para ir para o trabalho. Inclusive saía e voltava para casa sempre nos mesmos horários. Até que um dia foi vítima de um seqüestro relâmpago. Os bandidos limparam sua carteira e sua conta bancária, além de levarem seu carro e a TV de 42 polegadas que havia sido entregue em sua casa no dia anterior.
Durante algumas semanas ela até que tentou mudar de horários e de caminho, mas a rotina estava tão arraigada na sua personalidade que acabou retomando seus hábitos. Escrava do relógio marcava sempre o mesmo horário com a mesma manicure no mesmo dia da semana. Podologia e depilação de quinze em quinze dias, sempre às quintas. Aos sábados, às 8 horas em ponto estava no salão para retocar as raízes do seu cabelo loiro farmácia.
Nessas rotinas da vida foi passar o feriado prolongado na casa da família, no Guarujá. Marcou encontro na praia de sempre com a velha turma de amigos, dividindo a já conhecida rodada de caipirinha e camarão na barraca do Alemão.
Numa tarde de bobeira na praia, após dar uma longa espreguiçada e arrumar o biquíni, percebeu que era a única da turma que ainda não tinha feito uma tatuagem. Sem hesitar, sacou da bolsa de praia seu smart phone e agendou para segunda após o feriado ligar para aquele estúdio que as amigas haviam recomendado há tempos para ir fazer a tatuagem o mais rápido possível.
A semana seguinte chegou junto com a frente fria, ótimo período para manter escondidinha sua mais recente aquisição. À noite, após horas presa no também habitual congestionamento da capital paulista, parou em frente ao estúdio. A porta abriu com o seu costumeiro sinal sonoro avisando a entrada de um novo cliente. Ela tirou da sua bolsa cara uma pasta pequena, personalizada, de couro legítimo onde guardava um desenho muito colorido e desproporcional. Não dava para definir se era a imagem de uma sereia, borboleta ou da pequena fada Sininho. Chamei o Igor. Ele até que tentou convencê-la que aquela não era a melhor opção para o tamanho de tatuagem que ela queria fazer, mas não teve jeito. Estava muito acostumada a exercer o poder financeiro para fazer valer suas vontades e caprichos. E assim foi mais essa vez.
Algumas horas depois ela saía do estúdio com o tal desenho estampado na nuca, em baixo do seu cabelo loiro liso chapinha. Agora sim, pensou ela, voltei a me sentir parte da turma novamente. E eu ainda lembro quando brincávamos com as crianças da nossa rua de pique e esconde. Ela de aparelho nos dentes e cabelos desgrenhados. Época que, apesar da dureza, ela ainda tinha personalidade própria e não era mais uma dondoca Maria vai com as outras, que assume ser vaquinha de presépio enquanto conta a rotina da sua vida banal em salões de beleza e estúdios de tatuagem.

Descrição do narrador do texto acima:

O nome dela é Jéssica. Ela tem 25 anos, cabelos lisos cor de rosa caneta marca texto. Olhos grandes, castanhos amendoados. É do signo de leão. Tem piercing no nariz, na orelha, na boca, na sobrancelha e no umbigo. Já foi gótica e nessa época pintava o cabelo de preto e usava uma maquiagem bem forte. Lápis preto nos olhos, delineador, boca e unhas pintadas de preto. Hoje tem um estilo mais alternativo. Usa meia arrastão, coturno, sandália plataforma ou bota e roupa de brechó.
Seus pais moram em Pirituba. Ela mora sozinha no centro de São Paulo. Na maioria dos dias é bem humorada, menos às segundas.Usa ônibus e trem para ir para o trabalho. É recepcionista de um estúdio de tatuagem nos Jardins. É magra, alta (tem 1,70), fuma um maço de cigarro por dia. Também masca chiclete o dia inteiro ouvindo suas músicas preferidas no seu iPod. Bebe e usa drogas com os amigos. Maconha na maioria das vezes e ecstasy quando vai às raves.

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