Solidão

O texto a seguir é resultado do Jogo das 12 Palavras proposto pelo poeta-colega-talento Júlio Carvalho para a nossa Oficina de Inverno desta semana. Foi um desafio e tanto! As 12 palavras não poderiam ser repetidas e deveriam aparecer na seqüência de um conto curto, sendo elas: 1.abruptamente, 2.vozes, 3. sereno, 4.verdade, 5.rosas, 6. suspiro, 7.manhã, 8.angústia, 9.zodíaco, 10. intenso, 11.estampido e 12.atípico. Vejam só como ficou:

Laura é arrancada abruptamente de seus devaneios por um som de vozes. Dispara rumo à entrada da casa com o coração acelerado. Sem pensar em nada, abre a porta. Ofegante, só vê o sereno acariciando as flores do jardim, iluminadas pela lua cheia. Teria sido verdade ou apenas um delírio do seu ansioso coração? Baixa os olhos em profundo desespero quando é surpreendida pela visão reconfortante de um ramalhete de rosas apoiado sobre o capacho. Dá um suspiro profundo de alívio e saltitante retorna porta adentro. Remexe o embrulho e encontra apenas um pequeno livro de poesias. Derruba-se na poltrona ao lado da janela, deixando-se embalar pelo ritmo dos versos. Um raio de sol lhe arranca novamente do mundo especial, acariciando seu rosto como se a consolasse pela espera. É o prenúncio de uma nova manhã de solidão e angústia. Zodíaco, um gato persa cinza de olhos cor de abóbora, salta em seu colo e começa e ronronar, esfregando-se em um pedido intenso por carinho e alimento. Resignada, Laura põe-se em direção à cozinha. Desta vez é surpreendida pelo estampido do escapamento do bom e velho cadillac. Finalmente! Seria um dia atípico. A porta abre. Nada mais importa.